Quase nunca falo sobre minha experiência como mãe. Isso porque acho que, mesmo tendo passado um ano e quatro meses desde o nascimento da minha filha, eu sinto que ainda não sei nada. Quando eu tive minha filha foi algo planejado. Eu já tinha viajado bastante, curtido horrores e aÃ, após um ano com meu marido, começamos a divagar sobre filhos. Uns dois meses depois eu descobri que estava grávida. Obviamente a descoberta não foi nenhuma surpresa, e os nove meses que se passaram enquanto eu esperava a LavÃnia chegar foram uma montanha russa de emoções. Mas nada, nada mesmo me preparou para o que veio depois.
Quando tive minha filha eu passei por uma depressão pós parto bem pesada. Eu tinha medo de fazer mal a ela em algum momento de raiva, à s vezes eu sonhava que eu jogava ela na parede em uma crise de choro, coisas bem ruins e que me faziam sentir super mal. Juro que nos primeiros 40 dias de vida da LavÃnia eu simplesmente não conseguia gostar dela. É horrÃvel escrever isso, mas era a minha realidade e como mãe, isso doÃa muito. Não a toa minha mãe e meu esposo ficaram, nesse perÃodo, cuidando de nós duas. Eu não sabia como agir, não sabia o que fazer, ficava bem chateada quando ela acordava à noite chorando e interrompia o meu sono. Eu sentia como se aquela vida pré maternidade tivesse sido roubada de mim e eu colocava a culpa na minha filha. Mesmo eu tendo escolhido ser mãe, quanto todo o ônus da maternidade bateu à porta, o bônus ficou na lata de lixo. E demorou um tempo pra eu entender o tamanho da responsabilidade que eu tinha. Mas, mais do que entender a responsabilidade demorou um tempo pra eu também aprender a amá-la. E isso é normal. Acreditem.
Muita gente diz que toda mulher já nasce sendo mãe. Mas acredito fielmente que isso é uma mentira. A maternidade é aprendida todos os dias e acredito que seguiremos aprendendo até o dia em que morrermos. Eu cresci em uma famÃlia com pais que me deram tudo e sempre. Por mais que o objetivo não fosse esse, eles acabaram criando uma pessoa mal acostumada. E foi duro deixar essa antiga Tanara individualista e folgada (verdade seja dita) de lado pra aprender - pasmem - a pensar em algo além do meu umbigo. A pensar em alguém além de mim. E devo dizer, minha filha tem feito um ótimo trabalho me ensinando tudo isso. E hoje, como mãe, eu preciso lutar pra não passar para a LavÃnia maus costumes que fizeram parte da minha criação e mostrar que eu estou pra ela integralmente, no matter what.
Um exemplo das pequenas lições que a maternidade me trouxe é quando minha filha acorda a noite com fome. Eu e meu marido criamos o hábito de só ele levantar de madrugada para cuidar da LavÃnia. Isso é super cômodo pra mim, claro, que fico na cama dormindo. O problema é que quando meu marido está doente ou por algum motivo não pode levantar, eu demoro a entender que o barulho que escuto é um choro, que esse choro é da minha filha e que eu preciso levantar e fazer o que meu esposo faz todas as noites. Nesse Ãnterim a LavÃnia já ficou super estressada e quando eu chego no quarto dela fica muito mais difÃcil acalmá-la.
Sei que parece meio bobo, mas são detalhes importantes. Se meu marido passa mais tempo cuidando da minha filha, a figura que ela terá como referência em termos de respeito e carinho será majoritariamente ele, e não eu. E isso, no futuro, pode causar problemas na minha relação com ela.
Costumo brincar dizendo que meu marido corrige e eu fico responsável pela diversão, mas confesso que já estamos pagando o preço por isso. Quando é pra eu corrigir ela não dá bola e quando é pro meu marido brincar com ela, ela também não liga muito. Cara, são tanto detalhes, tantos pontinhos aos quais precisamos ficar atentos. A parte de trocar fraldas, levar na creche, colocar pra dormir é o de menos perto de todo o universo que tem por trás de ser mãe e pai.
Hoje, apesar de todos os erros (e também acertos) eu me considero uma boa mãe. Sei que posso (e devo) buscar ser sempre melhor, mas aquela visão individualista e umbigalista que eu tinha do mundo tem sido cada vez mais quebrada e substituÃda por um amor que não cabe no meu peito. Quando penso na depressão que tive quando a LavÃnia nasceu e nas coisas absurdas que tive medo que acontecessem com ela por minha causa, eu agradeço a Deus porque foram esses momentos difÃceis que me prepararam pra me doar 100% pra minha filha agora.
A trajetória não e fácil pra quem vive mas é imensamente leve pra quem está do lado de fora e julga. E esses julgamentos de pessoas que mesmo não tendo filhos, se acham melhor mãe/pai que nós que os temos, deve ser encarado com muita sutileza e, porque não, frieza. Ninguém além dos pais sabe o que é melhor pros filhos. Ninguém além dos pais tem o direito de se meter na educação, crescimento e edificação dos filhos. Isso porque também ninguém além dos pais acorda 3, 4x de madrugada, leva no médico duas vezes por semana, perde noites de sono pensando em como colocar no orçamento as roupas pro bebê, os brinquedos, a educação de qualidade. Então quando ficamos cansados, exaustos, quando cogitamos tirar aquele tão sonhado day off para relaxarmos um pouco, não nos julguem. Não diga que somos maus pais, que não pensamos nos nossos filhos porque cara, é basicamente isso que fazemos todos os dias. E sei que tem gente que pensa "se não queria essa trabalheira toda era só não ter engravidado". Mas gente, esse pensamento é tão burro (me desculpem a expressão). É o equivalente a dizer que "se não queria problemas na vida era só não ter nascido".
A gente escolhe sabendo dos problemas, sabendo das dificuldades e essa escolha é baseada no "apesar de". Apesar das noites mal dormidas, apesar da fila no hospital, apesar dos recursos gastos, apesar disso tudo.. eu quis ser mãe, eu SOU mãe e eu não trocaria isso por nada nessa vida.
Nós, pais e mães, temos sim o direito de errar porque nós também estamos aprendendo. Temos o direito de descansar porque nós também cansamos. Temos o direito de chorar porque muitas vezes, a responsabilidade aparenta ser maior do que suportamos carregar. Mas isso não diminui o tamanho do amor que sentimos pelos nossos filhos. Na verdade, acredito que são nesses momentos de dificuldades, que nós descobrimos nossa verdadeira força e o tamanho do amor que temos pelos nossos (eternos) bebês.
Eu amo minha filha, mataria e morreria por ela e graças a ela, hoje eu sou uma pessoa infinitamente melhor. Sigo cansada, sigo exausta mas eu não trocaria essa experiência por nada nessa vida. Ela nasceu de mim e eu estou crescendo por ela. <3