Sobre um Dia Internacional da Mulher daqueles..

by - março 09, 2019




No Brasil, o Dia Internacional da Mulher é sempre uma festa de horrores, na minha humilde opinião. Não se celebra a data com alegria, com amor, tampouco o foco se dispõe em ressaltar as conquistas da mulher ao longo dos anos – e quando o faz, a pincelada é tão enxuta que chega dá dó. Mas este ano, em especial, o foco ficou totalmente em usar, da forma mais baixa possível, este dia para atacar o governo que há pouco se encontra no poder.

Este porém, não é o motivo desta reflexão, afinal não quero fazer o que, pra mim, é razão de crítica. Minha análise é voltada para duas vertentes: a incrível façanha de ousarmos comemorar o dia da mulher em um dos países onde mais matam mulheres no mundo (mais especificamente o 5º, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos). Mais do que isso, ousamos ainda jogar isso nas costas de nós mesmas, quando na realidade esta conta não nos pertence. Mas isto já é clichê, é de conhecimento geral e virou algo tão comum que já não é mais tão ressaltado nas reflexões sobre esse dia; e a capacidade de falarmos muito sobre luta e, na prática, ainda fazermos tão pouco como sociedade. 

Lutar para que a violência pare, para que diminuam os feminicídios (a começar por enxergar que eles realmente existem e que hoje, mais de 50% dos crimes cometidos contra as mulheres são SIM com este qualificador), para que tenhamos direitos iguais (perante a lei, pois biologicamente NÃO somos iguais aos homens e insistir nesta premissa é de uma burrice sem fim) é algo que não deve se restringir a um dia do ano. E, principalmente, não deve excluir nossos pais, irmãos, maridos só porque eles são homens. Dizer que “não queremos flores, queremos respeito”, honestamente é ridículo porque um não exclui o outro e nada nos impede de termos os dois. Pelo contrário. Fazer com que um seja fator excludente de outro nos mantém na mesma espiral que nos fez chegar onde estamos. Merecemos flores, merecemos respeito, merecemos o mundo. E merecemos homens que lutem por isso ao nosso lado. 

Mas mais do que homens, merecemos uma sociedade que esteja em sintonia com esta luta e que pare, de uma vez por todas, de nos colocar sempre em condição de inferioridade, de vitimização porque isto não ajuda em nada à causa e corrobora, e muito, para que este verdadeiro massacre contra o “sexo frágil” continue. Merecemos ainda que desde o berço, eduquemos nossos meninos a nos dar flores, a abrir a porta do carro (sim, porque não? É uma questão de cavalheirismo e não de superioridade), a nos respeitar e respeitarem nossas escolhas, inclusive quando elas resultam em um grande e sonoro “não”. 

Só diminuiremos os feminicídios quando diminuirmos também nossa visão de inferioridade, de vítima pré feita. Afinal também podemos - e devemos - ser protagonistas das nossas vidas. Se o mundo lá fora está perigoso pra nós, que saibamos nos defender dele e nele. Sem melindres, sem vitimização. Outro dia, em Brasília, uma moça que lutava muay thai há oito anos rendeu, com um mata leão, um bandido que estava tentando assaltar a concessionária em que ela trabalhava e ficou com ele até a polícia chegar. Esses casos são exceções? Sim. Mas porque não tentarmos transformá-los em regra ao invés de algo esporádico? É arriscado, é perigoso mas honestamente, quando não foi? Isto é resistência. Violência não resolve o problema mas vitimização tampouco. Somos muito mais fortes do que pensamos, só fomos educadas da maneira errada por tempo demais. Que venham tempos de mudanças.

Que consigamos entender que este dia não se resume a um evento isolado e que, no momento da luta também possamos nos dar ao luxo de comemorarmos – com flores, abraços, carinho - nossa existência.

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