Tem assunto que não se discute..

by - novembro 12, 2018


...discute sim, desde que seja com qualidade!

Vivemos em um período onde boa parte dos assuntos que outrora foram tabus, hoje se transformaram em trend topics do twitter. Em meio a todo esse fluxo de informação, o trio ‘futebol, política e religião’ é discutido com maestria por verdadeiros especialistas no assunto (lê-se ironia aqui), em sua maioria grandes doutores da geração 2000 que muito pouco, ou nada, tiveram de contato com tópicos que tão ferrenhamente defendem.


Especialmente em 2018, o ano da maior virada política dos últimos 20 anos no Brasil, a discussão racional e fundamentada de assuntos que poderiam/podem mudar o curso do país foi substituída por bate bocas despreparados, relacionamentos desfeitos, agressões que ultrapassaram o limite do verbal e um caos social sem igual. Isso nos leva a uma reflexão: se assuntos tão importantes estão virando tópico nas rodas de conversa, porque o resultado desse diálogo é quase sempre infrutífero?

A resposta, creio eu, está na divergência de interesses. Boa parte das pessoas ainda não está realmente engajada e interessada em se aprofundar no que discutem. As conversas não passam de momentos rasos porque, talvez, as consequências ainda não foram catastróficas o suficiente ou talvez porque, por trás de uma massa de pessoas cheias de reflexões vazias, existem outras que se comprometem a fazer o trabalho “sujo”. Lê-se por sujo, o trabalho maçante, árduo e necessário para se adquirir e produzir conteúdo, discussões e posicionamentos de qualidade. Essas pessoas quase sempre são subestimadas por outras que pouco se importam com o rumo que o país toma. O que importa são quantidades de views e retweets. Nada mais.

Lembro que pouco antes do Bolsonaro ganhar as eleições (a despeito do meu voto ter ido nele ou não) eu estava conversando com umas pessoas e uma delas me disse (sic) “Se esse cara ganhar vai ser horrível. Eu mesma não consigo imaginar levar minha filha para escola e ter representantes do exército lá na porta. Isso pra mim é ditadura”. Sério. Uma afirmação dessas feita meses depois de um zelador entrar em uma creche em Minas Gerais e tacar fogo em salas abarrotadas de crianças. Depois disso seguiu-se uma série de argumentações não focadas nas propostas futuras para melhorar a segurança, mas sim para caricaturar um candidato. São com essas pessoas que temos que tentar dialogar. Não só  a respeito de política, mas de tudo. E esse diálogo não é fácil porque boa parte está super disposta a falar mas a maioria não quer (e nem sustenta) dois minutos como ouvintes. Em meio a um país cheio de corrupção, violência, desemprego, os grandes tabus estão sendo quebrados de forma errônea. O importante está em ganhar a discussão e não no assunto que gerou a discussão. As preocupações da grande massa continuam a ser fúteis e o resultado disso é ainda sermos um país intelectualmente atrasado. E a culpa é nossa.


Entretanto, vejo um caminho de mudança. Não é tão difícil entendermos que não temos conhecimento sobre tudo, e muitas vezes o conhecimento que temos é limitado. Isso nos põe em uma posição de constante dúvida, e porque não, aprendizado. E essa é uma postura que está se ampliando; a passos de formiga, claro, mas antes tarde do que nunca. Acredito que em breve não existirão mais tabus na sociedade pois eles serão quebrados com informação de qualidade. Acredito também que a tendência é o aprofundamento em cima de questões que atingem a sociedade de forma direta e indireta, até porque a mudança só surge com conflitos de ideias. E estas só mudam a realidade se forem discutidas de modo construtivo. Afinal, o problema não é ter ideias, conceitos e pensamentos divergentes. O problema está em não saber gerenciar isso com outras pessoas de modo que juntos, todos possamos transformar a sociedade em um ambiente melhor para viver. Boa parte dessa mudança se ilustra nos inúmeros canais de youtube, por exemplo. Cada um com posicionamentos diferentes sobre assuntos diferentes, mas a maioria comprometido em buscar, conhecer, se aprofundar antes de emitir uma opinião. E refutar a mesma, caso perceba-se um erro. O nome disso é humildade. E exercitar a humildade não só te ajuda na hora de argumentar mas também te ajuda a ter qualidade de vida.

Por fim, acredito que futebol, política e religião continuarão a ser trend topics mas tenho esperança de que, com um pouco de maturidade, informação e bom senso (esse não pode faltar), não serão mais causa de fins de relacionamentos, violência e pandemônio. Assim eu espero, pelo menos. rs


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2 comentários

  1. Ai super concordo! As pessoas só querem falar e não querem ouvir. Todos podem ter opinião, desde que seja a mesma do outro que está ouvindo. Pra maioria das coisas não tem certo ou errado, e todo mundo é livre pra pensar e defender o que quiser. Falta muita empatia e bom senso.

    Beijinhos
    Seguindo!
    tipsnconfessions.blogspot.com

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  2. Antes de tudo, é preciso buscar o bom senso (como escreveste aí) e não apenas o senso comum, afinal, não somos bois para seguirmos boiadas, ainda mais quando essas determinadas boiadas ferem a existência de tantos outros seres. Nada é. Tudo está. Existir é transmutar.

    Abraço.

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